quarta-feira, 28 de novembro de 2007

"vai onde te leva o coração"


"porque será que as verdades elementares são as mais difíceis de compreender? Se eu tivesse compreendido que a principal qualidade do amor é a força, talvez tudo se tivesse desenrolado de forma diferente. Mas, para sermos fortes, é preciso gostarmos de nós, é preciso conhecermo-nos profundamente, saber tudo de nós, mesmo as coisas mais ocultas, mais difíceis de aceitar. Como é possível levar a bom termo um processo deste género, quando a vida com o seu rumor vai empurrando para a frente? Só o pode fazer desde o início quem possui dotes extraordinários.
De repente, alguém - ou o vento - atira-nos ao leito de um rio, graças à matéria que somos feito, em vez de irmos ao fundo flutuamos; isso já nos parece uma vitória e, por isso, de repente, começamos a correr, deslizamos velozes para onde a corrente nos arrasta; de vez em quando, um molho de raízes ou uma pedra obriga-nos a parar; ficamos para ali durante algum tempo, batidos pela água, e depois a água sobe e liberta-nos, e continuamos em frente; quando o curso é tranquilo, vamos à superfície, quando surgem os rápidos, submergimos; não sabemos para onde vamos e nunca ninguém pergunta; nos troços mais calmos, conseguimos ver a paisagem, os diques, os silvados; mais do que pormenores, vemos as formas, o tipo de cor, vamos demasiado depressa para vermos outras coisas; depois, com o passar do tempo e dos quilómetros, os diques vão ficando mais baixos, o rio vai alargando, ainda há margens, mas por pouco tempo. « Para onde vais?» perguntamos então nós próprios e, nesse instante, à nossa frente, abre-se o mar.

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